Suplementação vitamínica em vacas leiteiras de alta produção
1. Introdução
Os sistemas de produção leiteira
enfrentam, atualmente, diversos problemas relacionados principalmente aos parâmetros de qualidade
e à reprodução. Alternativas para suprir a demanda energética são fundamentais para uma boa
produção, a qual deve atender as necessidades de energia, conter níveis adequados de
proteínas, vitaminas e minerais. Qualquer desequilíbrio na dieta pode levar a diminuição no
desempenho produtivo e reprodutivo, gerando prejuízo econômico.
As vitaminas estão presentes nos alimentos
em pequenas quantidades, sendo essenciais na nutrição de vacas leiteiras,
pois participam de diferentes processos na manutenção da saúde, crescimento e
reprodução. Como qualquer nutriente, elas devem estar presentes na dieta em quantidade correta,
prevenindo hipovitaminose, causada pela carência dessas substâncias, ou hipervitaminoses,
oriundas de um excesso das mesmas. A suplementação vitamínica na ração, na
forma mineral, garante uma melhor resposta ao potencial leiteiro, e auxilia na manutenção do
estado clínico, prevenindo doenças como a mastite e outras enfermidades comuns no período.
Dietas formuladas com vitaminas devem ser
utilizadas, segundo a necessidade animal, que varia conforme a espécie e categoria.
Deve-se levar em consideração que os volumosos nem sempre atendem às necessidades
nutricionais, especialmente os estocados (silagem e feno), que perdem a concentração nutritiva
com o tempo. Os ruminantes são diferentes dos demais animais por possuírem a capacidade
de sintetizar muitas vitaminas hidrossolúveis e lipossolúveis pelo rúmen.
Desse modo, é importante saber as funções
especificas das vitaminas, seus benefícios e deficiências, para entender como e
quando elas devem ser suplementadas.
2. Vitaminas Lipossolúveis
2.1 Vitamina A
É um nutriente fundamental para a
integridade da mucosa dos animais e de seu aparelho reprodutivo, participa da
transformação dos hormônios reprodutivos e desempenha papel importante no desenvolvimento do
sistema nervoso e imunológico. Sua carência desenvolve problemas em vários sistemas;
na pele, os pêlos ficam ásperos; nos olhos, pode ocorrer cegueira noturna e degeneração da
retina; no sistema nervoso há descordenação de movimentos, convulsões e degeneração
nervosa; no aparelho respiratório aumentam a sensibilidade às infecções das vias
respiratórias; no aparelho digestivo cresce sensibilidade às infecções das mucosas; no sistema
reprodutivo há atrofia dos ovários com baixa na taxa de ovulação e de fecundação, além de
problemas de ciclo estral e retenção de placenta. A intoxicação pela vitamina A não representa
um problema em condições práticas, pois ela não ocorre em plantas e sim os seus
precursores.
2.2 Vitamina E
Encontrada em sementes oleaginosas,
relacionada a diversas funções no organismo, a vitamina E tem importante papel
antioxidante, retardando o envelhecimento e prevenindo uma degeneração precoce. A sua suplementação
associada ao Selênio tem apresentado bons índices de redução de mastite e infecções
da glândula intramamária. Possui ação específica na absorção da vitamina A e na sua estocagem
no fígado, por isso a deficiência de ambas é concomitante e pode gerar uma série de
problemas, principalmente em animais jovens, onde a doença do músculo branco (calcificação
anormal dos músculos) é um sinal clássico, além da distrofia muscular nutricional, que ataca
os músculos esqueléticos e cardíacos. A deficiência pode ser oriunda de uma ingestão
inadequada e da baixa disponibilidade da vitamina nos alimentos, devido a condições inadequadas
no processamento dos mesmos. A vitamina E não apresenta toxidez devido a sua baixa
absorção.
2.3 Vitamina D
Age no metabolismo do cálcio e do fósforo,
proporcionando uma melhor absorção
desses minerais pela mucosa intestinal,
tendo importante influência na mineralização óssea e mobilização destes minerais dos ossos. Sua
deficiência no organismo compromete o sistema ósseo, deformando-o, e aumenta o risco de
ocorrência da febre do leite. A deficiência pode ter ocorrido devido a uma ingestão inadequada
ou pouca exposição à luz solar, necessária para a conversão dos percussores da vitamina D. A
ingestão de teores elevados de vitamina D, por longos períodos, pode causar redução na
ingestão de alimentos, e assim na taxa de crescimento e produção.
2.4 Vitamina K
A principal função desempenhada pela
vitamina K é na síntese de proteínas no rúmen e no papel anti-hemorrágico. Sua
deficiência é de difícil ocorrência, pois é sintetizada dentro do trato digestivo pelas bactérias do
ruminais, porém quando acontece, desencadeia um aumento no tempo da coagulação sanguínea.
3. Vitaminas Hidrossolúveis
3.1 Vitaminas do complexo B:
São sintetizadas pela flora ruminal, por
este fato a deficiência ocorre geralmente em terneiros por não apresentarem o rúmen
desenvolvido. Também pode ocorre que altas doses de antibióticos levem a deficiência, pois
debilita os microorganismos ruminais, comprometendo a composição adequada da microflora ruminal.
Suas funções estão ligadas ao sistema
nervoso, desempenhada pela Tiamina-B1
(farelo de trigo e alfafa) e Colina. A
Niacina-B3 atua na formação das células do sangue. A
Riboflavina-B2 age na desintoxicação do
fígado, em casos de excesso na ingestão de ureia. O Ácido Pantotênico-B5 atua na formação do
sistema imunológico do organismo animal, e na formação da vitamina A, a partir dos
carotenos. A Piridoxina-B6, atua na formação de proteínas a partir de aminoácidos. A Biotina-B7 e o
Ácido fólico-B9 atuam no crescimento e fortalecimento celular.
3.2 Vitamina C:
Também conhecida como ácido ascórbico, a
vitamina C atua como antioxidante,
prevenindo o envelhecimento e a
degeneração das células do organismo e auxiliando na absorção de gorduras. A deficiência desta
vitamina é característica do homem, sendo pouco relatada em ruminantes.
4. Exigências vitamínicas em vacas de
leite
Todos os animais têm necessidades de
vitaminas, porém a suplementação para ruminantes é diferenciada devido a seu
trato digestivo. A produção de vitaminas do complexo B e vitamina K ocorrem durante a degradação
e fermentação de nutrientes presentes na microbiota ruminal, entretanto em vacas de alta
produção, devido à capacidade produtiva que acelera as reações do organismo durante a lactação,
pode-se ter uma maior susceptibilidade à deficiência vitamínica.
A vitamina D é sintetizada através dos
raios solares na pele, e a vitamina C a partir de açucares. Assim, medidas simples mantêm as
necessidades de vitamina B, C, D e K como a exposição dos animais por algumas horas à
luz solar e uma dieta equilibrada, que promove a síntese de vitaminas no rúmen.
Por estas razões a suplementação exógena
de vitaminas em ruminantes consiste basicamente em Vitamina A e E. Em
determinadas circunstâncias, deficiências de vitaminas D e tiamina podem ocorrer em animais criados
estabulados, devido respectivamente a ausência de luz solar e ao fornecimento de teores
elevados de ração, que provocam a queda do pH e a diminuição dos microorganismos do rúmen.
Em vacas de alta produção a suplementação de niacina é necessária, pois os
microorganismos ruminais não suprem as necessidades fisiológicas.
Há dificuldade para definir as exigências
das vitaminas, pois elas mudam conforme a
categoria (vaca seca e vacas no
periparto). No período pré-parto a concentração de vitamina A reduz em 38% e de α- tocoferol
(provitamina E) chega a diminuir 47%, esta queda brusca coincide com o período de queda no consumo
de matéria seca e com a síntese de colostro, o qual é altamente rico em vitaminas
lipossolúveis. Esta variação compromete o sistema imunológico da vaca e resulta no aumento
de doenças infecciosas.
O NRC (programa de formulação de dietas)
considera que a vitamina A deve ser suplementada em 110 UI/kg, mesmo estando
presente nos alimentos fornecidos aos animais. Em vacas em lactação, alimentadas com
forrageiras conservadas a quantidade exigida de vitamina E é de 0,8 UI/Kg (NRC 2001).
O produtor deve prestar atenção na hora da
escolha do mineral enriquecido com
vitaminas para seu rebanho leiteiro nas
seguintes características exigidas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(MAPA):
· Os suplementos devem indicar por
quilograma do produto as suas quantidades – em UI (unidades internacionais) para as
vitaminas A, D e E, para a vitamina B-12 em microgramas e em miligramas para as demais
vitaminas.
· Os suplementos devem ter o teor mínimo
na mistura final:
Tabela 1: Teor mínimo de vitaminas nos
suplementos.
Vitaminas/Kg Bovinos Leiteiros em Lactação
Vitamina A 100.000
Vitamina D 10.000
Vitamina E 1.000
Consumo médio estabelecido¹ (g/dia) 70,0
¹ Consumo médio a ser considerado por
unidade animal (450kg)
5. Dicas para evitar perda de vitaminas
dos alimentos
A concentração de vitaminas nas
forrageiras é altamente variável, dependendo basicamente de fatores como a origem da
forrageira; condição climática e estágio de maturidade da planta. Entretanto alguns cuidados na
hora da conservação e nas condições de estocagem podem garantir uma menor variação de
vitaminas entre a colheita e até ser fornecida aos animais.
Os teores de β-carotenos (provitamina A) e
α-tocoferol (provitamina E), encontrados em gramíneas e leguminosas, são elevados
no estágio inicial e reduzidos na maturidade da planta, sendo indicado o corte na fase
inicial. A cor verde da planta é bom índice do seu conteúdo de caroteno. Após o corte da
planta devesse evitar a exposição aos raios solares em excesso, pois elevam a destruição de
vitamina D e dos β-carotenos e α-tocoferol. Neste caso deve-se optar pela secagem no celeiro por
reduzir o efeito destrutivo.
A presença de umidade pode agravar a perda
de β-carotenos no processo de secagem. Quando as forragens são expostas
a chuva e depois secas ao sol, aumenta as perdas de vitaminas em relação às forragens secas
apenas ao sol. No caso da vitaminas B e β- carotenos (provitamina A) as perdas são
completas.
O teor de vitaminas após o processo de
fenação é amplamente reduzido em relação às forragens frescas, passadas 28 semanas de
estocagem o teor de β-caroteno no feno é próximo de zero. Os fatores que podem estar
envolvidos nestas perdas são a umidade, temperatura alta no silo e presença de luz. A ensilagem de
gramíneas e leguminosas apresenta menor perda de β-carotenos e α-tocoferol em relação à
fenação. Porém quando se utiliza aditivos e ácidos orgânicos a perda de vitaminas é maior.
6. Considerações gerais
Uma dieta que supra as exigências
vitamínicas deve ser uma preocupação tanto para o pequeno como para o grande produtor, pois
pequenos desequilíbrios nas exigências nutricionais podem gerar prejuízos, através da redução
na produção leiteira e em situações mais graves doenças carenciais que podem até levar à
perda do animal. Neste, recomenda-se a utilização de complexos vitamínicos, injetáveis ou
orais, para uma rápida recuperação do animal. Deve-se tomar cuidado pois, ao contrário do que
afirma a bula, hiperdosagens podem sim causar danos, levando mesmo a uma intoxicação. Para um
correto estabelecimento do suplemento e da dosagem a ser aplicada no animal, o médico
veterinário deve ser consultado e dar suporte durante a terapia de suplementação.
O produtor pode garantir um melhor
fornecimento de vitaminas para seus animais através de cuidados na conservação e
escolha da forrageira que está sendo utilizada em sua propriedade leiteira. Todavia a forma mais
utilizada de fornecimento de vitaminas, devido sua praticidade, é através de suplementos, que
devem atender as exigências do MAPA.
7. Referências Bibliográficas
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Estratégias no Manejo e Alimentação de Vacas
GONZÁLEZ F. H. D.; SILVA S. C.; Introdução
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ZEOULA M, L.; GEROM L, J, V.. Vitaminas.
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Consulta em 18 de agosto de 2009.